quarta-feira, 26 de junho de 2013

Busologia política - A importância das estações e da qualidade da frota do transporte público


E ai pessoal?

Na minha monografia de curso eu percebi que muitas vezes o usuário do transporte público sente-se mal de usá-lo não somente por desconforto, mas também pelo prejuízo da sua auto-estima. Profissionais mal educados, mal treinados que não sabem lidar com o passageiro, veículos mal conservados, estações degradadas, longas filas nas estações e nos pontos, superlotação, tudo isso acaba com a auto-estima das pessoas. Uma amiga minha me disse que se sentia humilhada em ter que ir pra Rua Caetés, ficar numa fila gigantesca um tempão esperando ônibus, sem nenhum banco, sem nenhuma cobertura, no meio da calçada, porque o ônibus dela só tem um ponto de embarque no centro. Nos dias de chuva todo mundo corre para debaixo das marquises e o embarque vira o caos! Quando eu vejo os usuários da 2810, antiga 4408, na Rua Curitiba no horário de pico fazendo um filão que vai do ponto no meio do quarteirão até a esquina eu sempre me lembro do depoimento dela. Engraçado que quando o PROBUS foi implantado em 1982, um dos seus principais objetivos era acabar com essas filas, liberar as calçadas redistribuindo os pontos de embarque.

É preciso melhorar os pontos de embarque e diversas estações de ônibus e metrô. A estação intermodal São Gabriel, por exemplo, é uma pocilga! Só tem uma lanchonete perto das catracas do metrô, onde agora estão sendo feito os embarques de ônibus e funcionava antigamente como rodoviária pras linhas interestaduais de Vitória, Guarapari, dentre outras cidades. Lá o sol bate na cara dos passageiros a tarde. As estações de metrô não têm banheiro em BH. Onde já se viu um local de espera que não se tenha banheiro? A pessoa tá apertada, o próximo ônibus sai em 20 minutos, e aí? Faz na roupa? Essas estações além de ruins, são feias! Nada impede uma estação de ser funcionalmente boa, bonita e barata. Essas que eu citei são um lixo em todos esses aspectos.

Na verdade, se a cidade quiser diminuir o engarrafamento, o único jeito é investir em transporte público. E não adianta o sistema ser simplesmente funcional. O sistema tem que oferecer algo a mais pro usuário para que ele se sinta bem ali. Estações intermodais são lugares de baldeação, o que é algo naturalmente indesejado pelos usuários, pois preferem uma viagem direta, ininterrupta. Nesses lugares as pessoas tem que desembarcar, caminhar um percurso a pé, enfrentar outra fila, tem que esperar novamente outro veículo, correm o risco de comprometer a viagem sentado, etc. As pessoas tem que sentir que há alguma recompensa a todo esse transtorno. O usuário tem que se sentir dentro de um sistema organizado de transportes em que ele tenha vantagens como a integração tarifária que lhe permite rodar por toda a cidade pagando uma só tarifa, que ele perceba uma otimização do trânsito de ônibus nos corredores e centro e além dessas características funcionais, que ele também tenha disponibilidade de serviços nesses lugares. Todas as estações deveriam oferecer no mínimo serviços básicos como lanchonete, banheiro, fraldário, caixa eletrônico, guichê de informações, etc. Além disso, o tratamento arquitetônico desses lugares deve ser bem feito, pois a gente se sente melhor em ambientes bonitos. Lugar feio ninguém cuida, o povo quer que se exploda mesmo. Se as pessoas têm prejuízo da sua auto-estima usando esses serviços, obviamente farão o possível para não usá-los. Reverter isso que eu tô falando é o mínimo pra tentar reverter esse processo.

Outra coisa importantíssima pra melhorar o transporte é investir na qualidade da frota. É impossível fazê-lo com caminhônibus (ônibus montados em chassi de caminhão). Esses veículos são duros demais, não oferecem o devido conforto ao usuário, mas são comprados pelas empresas de ônibus porque são mais baratos, desgastam-se menos por serem mais leves, possuem maior poder de revenda e consomem menos combustível. O pior de tudo isso é que essa economia não se reflete na passagem, só no bolso dos empresários. Se você se sentar em um banco na parte de trás desses veículos e ele passar em alta velocidade sobre um quebra-molas ou entrar acelerado num declive você corre risco de bater sua cabeça no teto. Quem tem osteopenia, osteoporose, problemas na coluna eu não aconselho sentar lá. Além disso tudo, esses veículos são pouco acessíveis. Eles tem motor na frente do veículo consumindo um pedaço enorme do corredor atrapalhando a passagem, produzindo ruido e calor. A altura do primeiro degrau em relação ao chão desses veículos é absurda. São 45 centímetros. Isso é a altura do assento de uma cadeira. Imagina um idoso com artrite subindo um troço desses. Nos ônibus padrons essa altura é bem menor, é de 37cm. Bons mesmos são os piso baixo que tb possuem 37cm, mas agacham um pouquinho e ainda tem rampa pra cadeirante.



Belo Horizonte entre meados de 1993 e início de 2003 teve a melhor frota do Brasil. Os caminhônibus foram proibidos. Só entravam ônibus padron, muito mais macios, estáveis. Hoje em dia todos os padrons, piso-baixos e articulados foram aposentados e só tem furrecas em BH. O pior é que a própria BHTRANS impõe normas que desestimulam a aquisição de veículos melhores. Olhem o link: Requisitos mínimos da frota de BH. A BHTRANS exigir média de idade de 4,5 anos pra frota das empresas e deixar a vida útil dos veículos padron ser de 10 anos, enquanto dos caminhônibus ser de 7 é o cúmulo da incoerência. Quem vai comprar veículos mais caros pra trocar mais cedo?

Tá na hora de melhorar o nosso transporte, de dar dignidade pro passageiro e atrair o usuário do automóvel! Vamos exigir veículos melhores, estações melhores, pontos melhores, tarifas mais justas e principalmente a melhoria da eficiência desse sistema!




Sobre o post anterior, eu gostaria de acrescentar mais um exemplo de como funciona a política nos bastidores pra deixar a coisa mais clara ainda.

Imagina um especulador imobiliário que tenha imóveis e lotes espalhados pela cidade. Sabe-se que empreendimentos públicos podem desvalorizar ou não determinados lugares. O Minhocão em SP, por exemplo, foi responsável direto pela degradação do seu entorno, assim como o Complexo da Lagoinha em BH deteriorou a região da Lagoinha, pois tornou perigoso o trânsito de pessoas. Por outro lado, obras de acesso, obras de revitalização de bairros, melhorias no transporte, por exemplo, são coisas que podem valorizar o terreno ou o imóvel. Um especulador que tenha informações privilegiadas e tenha poder decisão nos empreendimentos públicos simplesmente fatura uma bufunfa! Assim, esses caras investem muito nas eleições municipais para colocar no poder prefeito e vereadores que apresentem projetos e repassem informações que os favoreçam. Simples assim.

Ônibus: Marcopolo Torino GV Volvo B7R Prefixo 6608 Linha 5534 - Conjunto Zilah Spózito operada pela Auto Omnibus Floramar
Foto extraída do extinto blog: http://ohomemcueca.fotopic.net
Fotógrafo: Vítor Rodrigo Dias.



Um comentário:

  1. Guilherme, eu concordo plenamente com tudo que disse, sem tirar e nem por.
    Correção: o ônibus da foto é um Volvo B7R e não B58E

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